A 4ª Promotoria do Ministério Público de Goiás (MPGO) investiga ações da Prefeitura de Senador Canedo tomadas ao promover a festa de 33 anos da cidade. Na ocasião, o prefeito Fernando Pellozo (PSD) chegou a anunciar a cobrança de ingressos nos valores de R$ 30 e R$ 50 para que a população tivesse acesso aos shows, contratados com dinheiro público e sem licitação, para apresentar na Canedo Fest Show.
O Diário do Estado denunciou as irregularidades dias antes da festa, que aconteceu entre 31 de maio e 5 de junho, o que levou o MPGO a iniciar a investigação extrajudicial para apurar os fatos. O DE apresentou farta documentação ao órgão, que comprovava que todos os shows do evento seriam pagos com dinheiro dos cofres públicos.
Na tarde desta terça-feira, 28, por e-mail, a 4ª Promotoria do MPGO informou que a promotora Tamara Cybelle instaurou procedimento, que está em andamento e, recentemente, foi solicitado à Prefeitura de Senador Canedo cópia de documentos pertinentes aos fatos.
“No momento, não é possível o repasse de mais informações, sob pena de prejudicar a apuração dos fatos”, diz o trecho final do texto enviado à reportagem do DE via WhatsApp da 4ª PJ.
Na ocasião da festa, a prefeitura, ao receber a solicitação de envio dos documentos, anunciou a abertura dos portões gratuitamente para o evento, mas não explicou o motivo de, inicialmente, querer fazer a cobrança dos ingressos. Não explicou também a falta de licitação para a contratação de artistas para a festa.
A Prefeitura de Senador Canedo gastou quase R$ 5 milhões para a realização do evento que contou com shows de Maiara & Maraísa, Israel e Rodolffo, Fernandinho, Zé Felipe, Zé Pedro e Felipe e banda Raça Negra, além da narração do locutor de rodeios Cuiabano Lima. Todos os shows foram contratados com autorização via processo administrativo de Ato Declaratório de Inexigibilidade de Licitação, com cachês que variaram de R$ 20 mil a R$ 350 mil.
O único processo licitatório realizado para a festa foi para a contratação de empresas responsáveis pela estrutura, mão de obra, equipamentos e hospedagem dos artistas contratados. O resultado já foi divulgado e o gasto com esta parte ficou em mais de R$ 3,5 milhões.
De acordo com a assessoria da promotora Tamara Cybelle, o MPGO não tem prazo determinado para encerrar a investigação contra a Prefeitura de Senador Canedo. Ela ainda está analisando a documentação encaminhada. “A investigação começou com o questionamento sobre a cobrança dos ingressos e quer saber também sobre a falta de licitação para a contratação dos artistas”, explicou a assessora.
Segue abaixo quanto a Prefeitura de Senador Canedo gastou com cada artista contratado:
31/5 – Show Gospel Fernandinho – R$ 90 mil
1°/6 – Maiara e Maraisa – R$ 350 mil
2/6 – Zé Felipe – R$ 250 mil
3/6 – Banda Saia Rodada – (não consta documento*)
4/6 – Israel e Rodolffo – R$ 250 mil
5/6 – Banda Raça Negra – 240 mil
Contratação da equipe Cuiabano Lima – R$ 40 mil
Gastos com empresas que venceram licitação para montagem, estrutura, equipamentos, mão de obra e hospedagem dos artistas – R$ 3.557.960,00
Aumento dos casos de Covid
Uma semana após o início da festa de aniversário da cidade, Senador Canedo passou a registrar mais de mil novos casos de Covid-19, fazendo com que a Prefeitura publicasse novas medidas para conter a disseminação do vírus, como a obrigatoriedade do uso de máscaras em hospitais e locais com aglomeração. Na Canedo Fest Show, o uso das máscaras não era obrigatório e serviu para a disseminação do vírus.
A celebração reuniu milhares de pessoas para assistir as apresentações dos cantores contratados para a festa. As unidades de saúde do município ficaram lotadas e com filas. Entre os dias 12 e 18 de junho, uma semana após o final da festa, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 1.182 novos casos da doença. Entre os contaminados, muitos servidores municipais.
Desde o início da pandemia, Senador Canedo registrou 31.147 casos de Covid-19. Também foram confirmados 451 óbitos em decorrência da doença, sendo 28 deles em 2022.