A taxa de evasão escolar na rede estadual de Goiás reduziu em 54% durante os anos de 2018 e 2021. Entre 2018 e 2019, um total de 77.879 alunos abandonaram os estudos, enquanto que em 2020 e 2021 esse número diminuiu para 35.696. Esses dados se referem aos estudantes que não renovaram matrículas no final do ano letivo e não solicitaram transferência para outras escolas. A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) atribui a melhoria nos indicadores a diversas medidas, como o repasse de bolsas aos estudantes.
Os indicadores de abandono escolar, que correspondem à quantidade de alunos que desistem do ano letivo antes de concluí-lo, também apresentaram melhorias desde pelo menos 2018. Nesse ano, a taxa de abandono escolar no ensino médio foi de 2,9%, enquanto no ensino fundamental foi de 1,2%. De acordo com um levantamento realizado pela Seduc, em 2021, o ano mais recente com dados disponíveis, a taxa de abandono escolar no ensino médio foi de 1,3% e no ensino fundamental foi de 0,5%.
Ao contrário do abandono e da evasão escolar, a distorção idade-série se refere ao número de alunos que estão frequentando as escolas, mas que estão com dois ou mais anos de atraso em relação à idade esperada para a série em que deveriam estar matriculados.
Nesse caso, também houve uma melhora nos indicadores, com uma diminuição significativa na taxa de distorção idade-série. Em 2018, 25,1% dos estudantes do ensino médio estavam nessa situação, enquanto em 2022 esse número caiu para 17,5%. No ensino fundamental, o percentual de alunos em distorção idade-série era de 20,7% em 2018, mas em 2022, esse número diminuiu para 14,5%.
Razões
De acordo com Ivan Gontijo, Gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, há várias razões que levam os estudantes a abandonarem ou atrasarem os estudos. Ele destaca que esses problemas tendem a aumentar à medida que o aluno avança na trajetória escolar, especialmente no ensino médio. Segundo ele, nessa etapa os estudantes enfrentam maiores defasagens, um currículo mais rígido e uma maior concorrência com o mundo do trabalho.
Uma das principais razões para a evasão e o abandono escolar é a necessidade de trabalhar e ganhar dinheiro para ajudar a família ou alcançar a independência financeira. Cerca de 30% dos jovens no ensino médio têm que equilibrar estudo e trabalho, o que significa que a escola compete com o mundo do trabalho.
O atraso escolar, caracterizado pela distorção idade-série, está diretamente associado tanto à evasão quanto ao abandono escolar. Muitos alunos que se encontram nessa situação deixam a escola e retornam posteriormente, o que explica o fato de terem uma idade superior à esperada para a série em que estão matriculados. Além dos motivos já mencionados, como a necessidade de trabalhar ou a busca por independência financeira, existem diversos outros fatores que contribuem para o atraso escolar, como a reprovação.
A reprovação escolar pode desmotivar os alunos em relação aos estudos, aumentando as chances de abandono e evasão escolar. A Superintendência de Gestão Estratégica e Avaliação de Resultados da Seduc identificou duas hipóteses que explicam as taxas de distorção idade-série: a entrada tardia na escola e o abandono repetido dos estudos durante o ano letivo, seguido de retorno no ano seguinte.
De acordo com a professora e integrante do Neppec da FE/UFG, Maria Augusta Peixoto, a evasão escolar é resultado de diversos fatores, incluindo a falta de investimentos na escola, o que prejudica o funcionamento adequado e a qualidade do ensino oferecido, levando à desistência dos alunos.
“Estrutura física adequada, investir na formação de professores, em bons salários e na valorização dos profissionais da educação. São esses fatores que estão sendo negligenciados”. E finaliza: “A escola deixou de ser um lugar de confiança, do laço social. O que está sendo feito, de certa forma, é uma desconstrução da instituição. A sociedade despreza a cultura, a ciência. Há um desprezo pelo conhecimento”.
Sugestões de implementações
Em conjunto, Gontijo e Maria Augusta concordam que é necessário implementar mudanças na metodologia e no currículo do ensino básico, bem como investimentos adequados em educação para resolver a problemática da evasão escolar. Para o gerente de Políticas Educacionais enfatiza três pontos principais para reduzir a desistência dos alunos: tornar a escola mais atrativa, acolhedora e inclusiva; estabelecer comunicação com as famílias; e oferecer políticas de bolsa de estudo. Enquanto a professora sugere medidas adicionais, como fornecer merenda adequada, atender os alunos no contraturno e garantir a possibilidade de transporte e segurança para os estudantes.
Segundo Gontijo, para lidar com o atraso escolar, é necessário acabar com a cultura da reprovação, que pode desmotivar os alunos. Ele defende que só se deve reprovar um aluno se houver a garantia de que ele receberá algo diferente no ano seguinte, caso contrário, a reprovação pode interromper a trajetória e aumentar as chances de evasão. Além disso, o gerente de Políticas Educacionais sugere projetos de correção de fluxo, com turmas menores, maior apoio e mais tempo na escola, o que poderia permitir a conclusão de dois anos em um, ajudando o aluno a sair da situação de distorção idade-série.
Medidas da Seduc
De acordo com a diretora de Política Educacional da Seduc, Patrícia Coutinho, a redução nos indicadores de abandono e evasão escolar tem sido alcançada por meio de uma série de medidas implementadas pela pasta. Entre elas está o programa Bolsa Estudo, que fornece R$ 111,92 para cada estudante do ensino médio que cumpra a frequência mínima de 75% e média escolar de seis pontos. Além disso, o programa Busca Ativa: Acolher para Permanecer prevê intervenções e apoios nas unidades escolares para garantir a permanência e aprendizagem dos estudantes.
A Seduc também tem o projeto Aprender para Avançar em parceria com a Fundação Roberto Marinho, que busca reduzir a distorção idade-série dos alunos nos anos finais do ensino fundamental, fortalecendo a aprendizagem e corrigindo o fluxo escolar em relação aos conhecimentos, habilidades e competências necessárias para a continuidade dos estudos. Além disso, a diretora destaca o fortalecimento da rede de proteção junto ao Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Referência de Assistência Social (Cras).
Para Patrícia, todas essas ações são combinadas e voltadas para estudantes em diferentes etapas e faixas etárias, implementando as estratégias necessárias para cada um. Essas medidas têm gerado melhorias nos índices e ajudado a alcançar a equidade na rede estadual.