Uma clínica de reabilitaçãofoi interditada pela Superintendência de Vigilância em Saúde de Goiás (Suvisa) após ter sido denunciada por situações de maus-tratos e tortura aos pacientes. A Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas é situada na região das Chácaras Marajoara, em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. Vídeos chocantes gravados no local mostram os internos sendo obrigados a tomar banho frio de madrugada, dormir no chão em meio a sujeira e ficar amarrados em posição semelhante à que escravos eram punidos no Brasil há mais de 130 anos.
No local estavam homens, jovens e idosos que sofreram com a dependência química, eles eram submetidos, diariamente, a humilhações e sessões de tortura que já resultaram até em morte. Conforme relatado pela Suvisa, cerca de 54 residentes estavam internados no estabelecimento no momento em que ocorreu a interdição e autuação da clínica.
Entre as irregularidades encontradas estão a falta de documentação para funcionamento da clínica, superlotação, ausência de responsável técnico, condições precárias de higiene e má alimentação dos residentes.
Após a interdição, a equipe responsável pela reabilitação tem o prazo de três dias para comunicar os familiares dos pacientes sobre a situação em que se encontram e realocá-los para outras clínicas de internação.
Sede da Comunidade Terapêutica Restauração
Antes de abrigar a Clínica de Reabilitação Restituindo Vidas, o local foi sede da Comunidade Terapêutica Restauração (CTR), que também foi fechada por suspeita de maus-tratos a pacientes. O espaço mudou apenas de nome, porém manteve a rotina de sofrimentos dos internados.
De acordo com a Federação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Fenact), o local funcionava de forma clandestina e é administrado por Tiago de Morais Araújo, que se apresentava como enfermeiro.
Para ludibriar a Justiça, o suposto enfermeiro abriu um Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ) identificando a empresa como uma comunidade terapêutica, mas, na verdade, oferecia serviço de clínica psiquiátrica com internações compulsórias.
Acusações
A lista de supostos crimes realizados por Tiago e os funcionários do local é extensa. Ele é acusado de bater, humilhar e permitir a circulação de drogas no local.
Ainda de acordo com relatos dos pacientes, não era permitido manter qualquer tipo de contato com a família, e havia a prática de dopagem com medicamento sem prescrição médica. Em casos mais extremos, disseram passar fome, pois as refeições eram rigidamente controladas por Tiago e monitores.
Um dos casos mais aterrorizantes foi quando um interno morreu, em março deste ano, após ser obrigado a ingerir doses cavalares de medicamentos controlados. Cerca de uma mês depois, em 24 de abril, outro paciente apareceu morto.
Carlos Eduardo Rodrigues, 44 anos, não passou sequer 24 horas sob os cuidados de Tiago. O homem foi internado na tarde do dia 24/4 pela mãe e, durante a noite, faleceu. O óbito dele está sendo investigado pela Polícia Civil de Goiás (PCGO), por meio do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Luziânia.
Estrutura precária e superlotação
O espaço disponibilizado aos pacientes não era apropriado para a quantidade de pessoas que atendia. A casa possui três quartos e alojava cerca de 54 homens. Por falta de estrutura, alguns dormiam no chão. Além disso, a residência tem apenas um banheiro, sem descarga, o que torna a higiene precária.
O local também não contava com a presença de psiquiatras ou enfermeiros para oferecer tratamento e suporte devidos.